PCHs em crise

Um balde de água fria para aqueles que apostam que a instalação das PCHs no rio Pardo é motivo de progresso e desenvolvimento.

Em matéria do jornal Valor Econômico (19/09/2011 – http://www.valor.com.br/brasil/1010286/sem-estimulo-pequenas-usinas-vivem-crise), o jornalista André Borges mostra o tamanho da crise por que passam as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). E não há data para terminar.

Se encararmos como uma ação da bolsa de valores, a PCH é hoje um dos piores papeis de investimento do mercado na sua área. No último leilão realizado no mês passado, nenhuma das 27 PCHs conseguiu fechar negócio nos próximos 3 anos. Ou seja, ninguém quis arriscar dinheiro num barco furado.

Conforme o Secretário Executivo da CERPCH, entidade voltada para a difusão da tecnologia de PCH, Thiago Filho, para que a PCH se torne rentável ela necessita que o valor do MW esteja acima de R$ 140,00 MW/hora. No último leilão ficou abaixo de R$ 102,00 MW/hora. Prejuízo na certa.

Hoje temos 402 PCHs em operação no Brasil, que geram 3,2% da energia do país. Centenas de projetos estão em análise. No ano passado previa-se que a energia das PCHs cresceria 72,3% até 2019. Este ano caíram para a previsão de 69,4%, para o mesmo período.

A bola da vez são as fontes de biomassa e eólica. Cabe lembrar que nossa região tem larga fonte de biomassa com as sobras da cana-de-açúcar. Estas duas fontes de energia tiveram suas alíquotas de ICMS zeradas. As usinas de energia eólica também não pagam IPI. As PCHs pagam 15% a mais de impostos do que as usinas eólicas.

Até o final de 2011 as PCHs atingirão a produção de 4.200 MW e as eólicas 1.283 MW. Em 2013 as eólicas produzirão 5.272 MW e as PCHs estarão estacionadas em 4.376 MW. Aumento pífio.

O Presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel), Charles Lenzi é taxativo: “Entre os investidores não tem segredo, eles apostam no que consideram mais atrativo. Por isso, tem muita gente abandonando a PCH para investir nas eólicas e em biomassa”, afirma.

A situação é muito clara, se dá dinheiro é bom, se não dá, corra. Existem outras possibilidades de negócios, e a PCH não tem o perfil de gerar lucro, pois além de não apresentar um preço competitivo, exige um processo muito burocrático para aprovação de projetos para participar de um leilão. Muito mais do que as usinas eólicas e de biomassa. Essas últimas necessitam apenas apresentar um estudo de viabilidade técnica à Aneel. A PCH precisa aprovar um projeto básico na agência e depois tem de ter habilitação para participar da disputa. Isso envolve muito dinheiro e menos retorno.

Entre 2005 e 2010, apenas 24 PCHs tiveram sucesso em leilões, vendendo 228,1 MW. As eólicas, só em 2009 e 2001, conseguiram 141 projetos para gerar 1.678 MW.

Os empresários cobram do governo uma decisão se as PCHs são uma prioridade para a matriz energética do país ou não, mas não tem respostas. O que se nota é que a posição governamental é de defesa de outras fontes de energia, como a eólica e biomassa, as quais geram menos embates ambientais e custam menos.

Conforme o documento divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE (28/09/2011 – http://epe.gov.br/imprensa/PressReleases/20110928_1.pdf) no próximo 20 de dezembro será realizado mais um leilão de energia visando o atendimento do mercado consumidor do país a partir de 2016. Foram apresentados 377 projetos, os quais somam uma capacidade instalada de 24.253,6 MW. As usinas eólicas somam 79% dos projetos (296), representando 31% da geração de MW. O bagaço de cana apresentou 3,2% dos projetos (12), com geração de 2,87% do MW. As PCH somaram 5,04% dos projetos (19), mas gerarão apenas 1,25% de MW.

Desses projetos envolvendo bagaço de cana, 7 deles estão em São Paulo. Essa alternativa de geração para nosso estado é muito mais viável do que as fatídicas PCHs, ainda mais quando sabemos que nossa região é rica produtora desta matéria prima energética. E não degrada nosso meio ambiente com as PCHs.

Diante desse quadro, o futuro pouco promissor das PCHs como investimento e menos ainda como alternativa energética nos mostra que, pensar que sua construção possa gerar desenvolvimento para Santa Cruz e região não tem o menor cabimento.

É maior ainda a necessidade de não trazer uma alternativa energética atrasada e pouco rentável para nossa região. Corremos o risco de, ao invés de barcos em lagos termos enormes estruturas de concreto enfiadas no rio Pardo e abandonadas pelo desinteresse do retorno financeiro. Ao invés de matas ciliares, poderemos ter grandes áreas devastadas e sem uso devido à não viabilidade de continuação dos canteiros de obras.

Este quadro não é difícil de se prever, os números e o desinteresse dos investidores estão aí acima para serem vistos, analisados e pensados. E o futuro já nos mostra os passos seguintes.

Mais do que nunca a solução para a nossa região contribuir com a geração de energia para o futuro do Brasil está na geração de energia pelo bagaço da cana, a qual não gera um impacto bem menor na flora, fauna e nas águas.

Os investidores pensam em retorno de investimento. Nós temos de pensar em nossa qualidade de vida. Eles pouco se importam com o desenvolvimento de nossa região. O desenvolvimento deve ser uma preocupação nossa e buscarmos alternativas para isso. E essas alternativas não passam de forma alguma pelas 9 PCHs que se pretende instalar e sua crise existencial já em andamento.